23 de mai. de 2012

Tão longe, Tão perto...

Acho que faz parte pelo menos da lembraça dos adultos que, quando crianças iam para as fazendas, chácaras e afins, aqueles arbustos abundantes cheios de capim.... mas que a mãe sempre dizia: "Tome cuidado minha filha.... isso pode te cortar!"
Para mim, tenho a lembrança ainda muito nítida de imaginar de formas mirabolantes como que, de um talo relativamente pequeno, poderia surgir aquela quantidade toda de folhas finas e longas que realmente nos cortava quando passava na pele.
Sopa Tailandesa Tom Khaa Gai
Rizoma de capim Limao
De várias andanças pelo pomar no fim da tarde, aprendi, como que em aulas ao ar livre, que aquele capim era bom.... mas bom pra quê??!!
Ah, pra fazer chá! Simples assim.
Com os invernos do interior de São Paulo, que incrivelmente são quase tao intensos como o inicio do inverno Europeu, aprendi a gostar daquele capim que tinha um sabor diferente, um frescor que ao mesmo tempo aquecia e um aroma inconfundível de aconchego. Pronto, fui apresentada ao Capim Limão, ou como queira chamar: capim cidreira, erva cidreira, capim santo, chá de estrada, entre outros.
Muito tempo depois vim a descobrir que esse capim, não é somente mais um qualquer dentro daquela quantidade infinita de capim que se encontra numa fazenda. 
Ele tem um papel muito importante na culinária asiática de forma geral, entre elas nas mais usadas como tailandesa, vietnamita, malasiana, indonésia e filipina.
O capim limão tem, na verdade, mais qualidades do que imaginamos.... O chá feito das suas folhas finas - frescas ou secas - a comida feita com seu rizoma - esmagado ou cortado em pequenos pedaços - e o óleo essencial são alternativas naturais para diminuição de ansiedade, regulação da pressão arterial, desbloqueio das vias aéreas, é bactericida, analgésico e, segundo a aromaterapia harmoniza ambientes, aumenta a concentração e ainda é um bom agente anti-stress e anti-depressão.

Segundo pesquisas agronômicas o capim limão é nativo do sul da Índia, por isso muito usado em misturas de curry feitas a mão e com todas suas propriedades foi facilmente difundido para uso nos outros países da Ásia.
Com esse rico "currículo", o capim limão é um dos ingredientes que mais simboliza a culinária asiática, tendo papel especial também na culinária budista em geral.
Há quem diga que o uso do capim limão foi difundido no Brasil pelos portugueses que o trouxeram devido às suas propriedades medicinais. Mas ainda não encontrei esse "elo perdido". 
De qualquer modo, é inegável como um cházinho de capim limão dá o conforto que precisamos nos dias frios. Então, segue aí minha proposta para começar a prová-lo de outras formas... no suco, como tempero da sopa, do peixe, do frango, enfim... o importante é provar! Bom apetite!   

5 de mai. de 2012

Uma delícia que se come assim: num relâmpago!

Éclair de abacaxi, éclair au chocolat - Gerard Mulot eéclair de limao - Fauchon
Ainda me lembro quando pequena que sempre ouvia minha mãe me dizer: “Se não engordasse eu sairia da confeitaria com uma bandeja cheiinha de bomba de chocolate só pra mim.”
O que eu não sabia naquela época é que a bomba de chocolate que minha mãe sempre gostou tanto era conhecida e desejada também no resto do mundo inteiro.
O nome desse doce tao amado é éclair. Mas, peraí, na tradução do dicionário francês, éclair significa relâmpago. Então porque é também o nome do doce??
Voltemos ao século XVIII em Lyon. Ali havia um doce muito conhecido e já muito consumido chamado Les Ducheses feito de uma massa pré-cozida chamada pâte a choux modelada com o saco de confeiteiro no formato de um dedo, assada e enrolada em praliné de amêndoas (amêndoas crocantes cozidas em caramelo). Não se sabe ao certo quem o inventou, mas o que se sabe é que, de uma versão inovadora desse doce surge a éclair que conhecemos hoje.
Mas a história não pára por aí. Na verdade quem o renovou foi nada mais nada menos que o maior especialista em pâte a choux que existiu – Antoine Careme. Foi ele que, já no século XIX, trouxe a perfeicão do éclair recheado de créme patissière ou créme chiboust e coberto com fondant de açúcar.
O doce, porém, apesar da inovação continuava com o nome original: Les Ducheses.
20 anos depois da morte de Careme é que surge o nome éclair numa propaganda do doce nas patisseries francesas da época. O que se dizia, segundo os anúncios, é que as pessoas viessem provar as deliciosas Ducheses que de tao boas se comia num relâmpago.
Da frase original surgiu o seguinte dito francês: “Et un bon éclair se dévore toujours en un éclair!” (E uma boa bomba se devora sempre em um relâmpago - em português)
Todos os anos acontece um concurso em Paris para eleição do melhor éclair au chocolat do ano. E eu tive a felicidade de provar a éclair da Patisserie Stohrer, a vencedora de 2010.
Por isso fica a dica: quando vier a Paris dê uma pesquisada para saber qual a vencedora do ano.
Vai valer a pena!


24 de abr. de 2012

Comida de índio sim, mas com consciência, por favor!


Fricassè de Palmito

Mudas de palmeira de pupunha e palmito em conserva
Muita gente já se anima quando escuta a mãe ou a avó dizendo: “amanhã vou fazer empadão de palmito!”
Eu também me animaria... um empadão feito pela mãe ou pela avó, ainda mais de palmito... hmmm que delícia!
Mas sabendo um pouco mais sobre essa palmeira comestível podemos nos deliciar sem culpa.
Segundo o folclore indígena, havia uma tribo no meio da floresta que começou a crescer demais. Sem opção de comida para todos o cacique teve de tomar uma difícil decisão: sacrificar os recém-nascidos para evitar maior crescimento da tribo. Com isso a filha do cacique, Iaçá, também teve sua primogênita sacrificada. Sem consolo e com muita tristeza pelo acontecido ela chorou até morrer abracada a uma palmeira cheia de frutos. Quando encontrada pelo pai, o cacique resolveu provar dos frutos e da própria palmeira. Daí por diante a tribo pode ser alimentada e foi suspenso o sacrifício das crianças. A palmeira recebeu, então, o nome de Açaí (Iaçá ao contrário).
Fato ou lenda, o consumo do palmito como alimento já existia quando, em 1500, os portugueses aportaram no Brasil. Eles passaram a usá-lo em suas especialidades muitas vezes substituindo o aspargo e o levaram à Europa.
O palmito nada mais é do que o miolo da palmeira. Macio e suculento sua extração causa invariavelmente a morte da planta nativa da mata atlântica, provocando uma enorme devastação da mata, trazendo danos à cadeia alimentar da floresta e fazendo do palmito de espécie Juçara um sério candidato à extinção.
Mas e o palmito de pupunha? Será que podemos consumi-lo?
A resposta é SIM! Ele é a alternativa sustentável para os nativos Juçara e Açaí. Suas palmeiras podem ser cultivadas em qualquer época do ano, tem crescimento muito rápido e por isso pode ser extraído em menos tempo de espera, não tem necessidade de replantio imediato pois brota por perfilhamento e dela se utiliza praticamente tudo, não somente o miolo.
Estima-se que o estado de São Paulo consuma 70% da produção de palmito brasileira. E ainda assim, o Brasil é responsável por 50% da produção mundial.
O palmito é um alimento muito nutritivo e também muito saboroso, nós só precisamos fazer atenção ao consumo consciente. Por isso prefira os palmitos de plantio.
Ah, e se for comprá-lo em conserva também procure saber como é feito o processamento dele até entrar na lata. Higiene nesse processo é bom e todo mundo gosta, não é mesmo??!!
Dica: Se quiser preparar o palmito in natura na grelha, compre sempre palmito de pupunha de um fornecedor confiável e coloque-o na grelha no início do churrasco para comer só no final. Deixe por umas 3 a 4 horas dependendo do tamanho. E quando abri-lo coloque somente um fio de azeite extra virgem e sal temperado. Bom apetite!

12 de abr. de 2012

Um mundo de aroma, sabor e encanto!

Baunilha do Tahiti e Baunilha Bourbon de Madagascar

Vagens de Baunilha ainda verdes
No alto dos meus trinta e poucos anos de vida e quase dez de cozinha não me lembro de encontrar uma só pessoa que me confirmasse não gostar de Baunilha.
É realmente impressionante como essa pequena vagem preta, cheia de pontinhos minúsculos dentro dela possa arrebatar tantos paladares no mundo todo, independente da cultura gastronômica em que cada um vive.
Essas estórias realmente me fascinam... Tudo começa há muitos e muitos anos quando os Totonacas, habitantes do Golfo do México, contavam a seguinte lenda:
Fugidos para viverem seu amor proibido, o príncipe Zkatan-Oxga (Veado-Jovem) e a princesa Tzacopontziza (Estrela-da-Manha) foram apanhados e decapitados pelos sacerdotes de Tonoacayohua, a deusa das colheitas. Do sangue dos dois caído na terra fértil da floresta nasceu uma orquídea de flores amarelo-claro e que produzia pequenas vagens com um conteúdo extremamente perfumado. Flores essas, chamadas pelo povo da região de Caxixanath – a flor escondida.
Sendo tão especial como dizia a lenda, a planta passou a ser utilizada pelos Astecas e Maias para perfumar e decorar a bebida dos deuses feita com cacau – Xocoatl.
Na década de 1520, depois de conhecer a bebida de cacau através do Imperador Montezuma, o explorador espanhol Hernán Cortez trouxe a planta e o cacau para a Europa chamando-a de Vainilla - vagem pequena em castelhano.
Produzida somente pelo México até o século XVII, em 1605 o botânico belga Charles L'Ecluse descreve pela primeira vez a orquídea numa publicação. Porém todas as tentativas de produção fracassam devido à dificuldade de polinização da planta. Foi quando Luis XIV da Franca, apaixonado por baunilha, tenta introduzir a produção da orquídea na Ilha Reunion a leste de Madagascar - antiga Île Bourbon - devido ao clima propício.
Somente em 1841 acontece com sucesso a polinização artificial da orquídea feita por um menino da ilha de apenas 12 anos. E esse processo é feito do mesmo modo até hoje conferindo a Madagascar o título de maior produtor de baunilha com 60% do total mundial.
No Tahiti, a baunilha chegou através da rota dos Galeões de Manila que faziam a comercialização espanhola entre as Filipinas  e o México.
Sendo a segunda especiaria mais cara do mundo devido ao processo manual de polinização, a alternativa da indústria de massa é o uso de aroma proveniente da vanilina, um composto natural da vagem de baunilha,  cristalino e de cor branca.
Seja na confeitaria ou na cozinha, a baunilha tem um papel de destaque na gastronomia do mundo todo. Então por que não provar um creme, um sorvete, um café ou até mesmo um molho feito com a fava de baunilha fresquinha??
Aposto que a única dificuldade vai ser parar de comer!!!

3 de abr. de 2012

Café: ele é a cara do Brasil!

Em sentido horário: Cappuccino em Colônia, Café Turco em Istanbul, Espresso no Lago de Como , café do Patio em Praga
Seja de manhã, logo depois do almoço ou no meio da tarde, tomar um cafezinho é sempre uma “boa pedida”.
É inegável que o café é uma das bebidas mais conhecidas no mundo, senão a mais conhecida. Mas como é que isso aconteceu, como o café se tornou tão conhecido e tão apreciado??
Há duas versões para a descoberta do consumo de café.
Uma delas conta que um pastor da Absínia, hoje Etiópia, observando seu rebanho de carneiros constatou que depois de comerem a fruta de uma árvore estranha ficaram mais espertos. Ele, então, experimentou e se sentiu revigorado. Os monges do povoado onde isso se passou resolveram provar uma infusão dessas frutas e adotaram esse “chá” contra o sono durante as orações.
A outra diz que um fanático religioso foi expulso de Moca, na Arábia, e, escondido nas montanhas,  teve que se alimentar de frutos de um arbusto. Visto que eram muito amargos, decidiu tostá-los e como suas sementes ficaram muito duras achou que deveria deixá-las para amolecer em água. Depois, bebendo daquela água marrom, se sentiu muito bem e com mais energia.
Fato mesmo é que na Antiguidade, algumas tribos africanas faziam uma pasta com os grãos de café para dar forças aos guerreiros e aos animais antes das batalhas.
Planta originária da Etiópia, seu cultivo se iniciou na Península Arábica tendo seus grãos torrados, para consumo do que hoje conhecemos como café, pela primeira vez na antiga Pérsia, hoje Irã.
O consumo da bebida se espalhou por todo o mundo islâmico atingindo Constantinopla a capital do império Otomano, hoje Istambul, onde em 1475 surgiu a primeira loja para venda de café.
Com a tomada de Constantinopla pelos romanos, rapidamente o café foi levado à Itália, mais precisamente para Veneza, onde foi inicialmente proibida até que fosse aprovada pelo Papa Clemente VII.
Com as devidas aprovações na Europa, a bebida caiu no gosto dos austríacos que foram os primeiros a coar o café como conhecemos e tomá-lo com leite.
Em 1652 foi aberta na Inglaterra a primeira loja de café da Europa. Seguindo a expansão, em 1672 foi a vez de Paris ter sua loja, inovando com a adição de açúcar para popularizar o consumo.
Na América, o costume chegou pelos holandeses que também espalharam suas sementes em toda a América Central.
No Brasil a planta chega somente em 1727 a pedido do governador do Estado do Grão-Pará. Por causa do clima as mudas são transferidas para o sudeste do país, fazendo do estado de São Paulo o mais rico em 1860 devido à indústria cafeeira.
E hoje em dia, o Brasil é responsável por cerca de 40% da produção mundial de café e os EUA pela liderança no consumo.
Mas depois de tanto papo, acho que preciso mesmo é de um cafezinho.. vocês topam?!

28 de mar. de 2012

Cardápio de hoje: Flores??!!

Papoula, Violeta, Cravo e Malva

Salada com Capuchinha e Xarope de Violeta
Consumir flores não é tão exótico quanto parece. Desde a Idade da Pedra sabe-se de seu uso como ingrediente. No Antigo Testamento, o dente-de-leão já era citado como uma erva amarga usada na culinária.
Na Grécia antiga se usava flores para obtenção de corantes, complexos vitamínicos, antioxidantes, calmantes, etc... Elas eram consumidas em sua maioria nos chás, geléias, licores, caldas doces e algumas até como prato principal.
Muitas culturas incorporaram flores às suas comidas tradicionais, como os romanos que usam até hoje as flores de abobrinha em saladas ou risotos, os árabes que utilizam água de rosas em muitos doces e os indianos que não dispensam o arroz basmati com jasmim.
Os franceses não ficaram atrás, e usam a semente de papoula para decorar pães, lavanda para fazer crème brûlée, cravo como ingrediente secreto do licor Chartreuse, capuchinha para enfeitar e ser ingerida com todo o resto da salada e a violeta que, além de dar sabor ao macaron, ajuda com seu xarope a completar o famoso drinque francês Kir Royal.
Aliás, sem a necessidade de tanto exotismo, basta lembrar que no nosso dia-a-dia as flores também são alimentos como a couve-flor, o brócolis e a alcachofra por exemplo.
Só como lembrete, não podemos esquecer que comestível nem sempre significa saboroso e que antes de serem consumidas é preciso ter certeza de que as flores não foram borrifadas com defensivos.
O que vale é, com atenção, escolher bem a flor e a receita!

22 de mar. de 2012

Brigadeiro: Ele mora em nossos Corações!

Brigadeiro, o mais famoso docinho brasileiro, teve seu papel de destaque na História do Brasil e até hoje segue conquistando corações seja com a versão tradicional ou com as mais variadas opções.
O doce que, originalmente era feito com leite, açúcar, ovos, manteiga e chocolate em pó, teve alguns ingredientes substituídos por leite condensado açucarado e foi batizado com a patente do Sr Eduardo Gomes, que o usou em sua campanha política para a Presidência da República na década de 40.
Embalagens de leite condensado e as variedades de brigadeiro
Mas há de se concordar que, não fosse o leite condensado que é facilmente achado em qualquer supermercado, muita gente não o prepararia assim, digamos, tão facilmente...
Então, surge a pergunta: qual a origem do leite condensado??!!
O leite condensado sem adição de açúcar foi o resultado de um estudo sobre esterilização e conservação de alimentos em embalagens herméticas feito na França por Nicolas Appert em 1820.
Devido à Guerra Civil nos EUA em 1861 o sucesso do produto foi certo. Anos mais tarde e aprimoradas as técnicas, o leite condensado teve adição de açúcar e passou a ser comercializado em latas.
A comercialização do produto no Brasil começou em 1871 no Rio de Janeiro. Porém só em 1921, com a instalação de uma fábrica da Nestlè na pequena Araras-SP, o famoso criador da farinha láctea - Henrique Nestlè - deu início a produção do leite condensado Moça no país.
Até hoje a marca é a maior referência de leite condensado no Brasil sendo também detentora da maior fábrica produtora do mundo com a unidade de Montes Claros - MG.
Tradicional ou "moderno" o brigadeiro faz parte da vida dos brasileiros e, pelo jeito, vai continuar a escrever sua estória!!