É inegável que, a cada dia, o uso indiscriminado e até exagerado da inteligencia artificial nos leva a um destino ainda desconhecido, porém "confortável" no que se refere ao esforco pessoal para praticamente qualquer tarefa.
Fica mais fácil acompanhar essa transicao nos servicos que, automatizados em algumas áreas, se tornam mais rápidos e mais precisos. Já na gastronomia há a dificuldade de se automatizar algo que originalmente e naturalmente é feito com as maos. Nao necessariamente artesanal, mas feito com as maos.
A diferenca entre o chefe da cozinha e os outros cozinheiros da equipe sempre foi a capacidade de pensar e elaborar um cardápio além do talento em liderar um time e organizar a producao desses alimentos, ajustar e equilibrar os sabores e, o que eu considero um dos maiores diferenciais, saber reaproveitar cada descarte de porcionamento de forma elegante e saborosa.
Meus primeiros contatos com essa capacidade, ou a falta dela, foram no Zuka (RJ) onde aprendi que essa qualidade num chefe de cozinha pode impulsionar ou afundar um restaurante. Dali, já no Café Laguiole, aprendi a arte da cozinha francesa na sua essencia especial, seu charme excepcional e principalmente no seu reaproveitamente elegante. O Chef Pierre Patrick de Belissen me ensinou como se elabora um cardápio integrado no uso dos ingredientes de forma inteligente, auspiciosa, respeitosa e pertinente à cada época do ano. Foram 6 meses ali, aprendendo os segredos de um oficio que só se aprende com prática, intencao e com as maos.
Hoje vejo os novos chefes de cozinha abrindo suas geladeiras e perguntando aos assistentes de IA o que fazer. Elaborando cardápios com o Chatgpt. Muitos nao sabem o que é e nem como funciona sazonalidade.
Se por um lado há uma chance de a IA melhorar o servico de gastronomia indicando o que comprar e o que cozinhar, por outro também, e infelizmente, há a chance de tudo se igualar, se tornar padrao.
E a questao que me inquieta é: quanto tempo ainda temos pra apreciar o encantamento nas cozinhas de maos talentosas que teimam em cozinhar sem essa tecnologia avalassadora? Quantos serao os lugares em que poderemos realmente provar comida caseira, respeitosa e afetiva?
LG
CarolP